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Você conhece os Índices de Endividamento?

Fique atento ao grau de dívidas da sua empresa.

Endividamento. Bastaram alguns segundos para a função de autocomplete do Google mostrar: como tirar uma empresa das dívidas, como levantar uma empresa falida, como reerguer uma empresa endividada, e por aí vai. Com toda certeza você quer passar longe desse tipo de pesquisa, afinal, empresas saudáveis financeiramente, com um fluxo de caixa apresentando exatamente aquilo que pede o orçamento empresarial, não se preocupam com isso. Será?

Ver a empresa no vermelho não faz parte do sonho de nenhum CEO, muito menos de CFOs, mas você vai concordar que essa é a realidade de uma grande parte dos negócios. E por que isso acontece? Por que o endividamento empresarial ronda um número cada vez maior de negócios? São essas as perguntas que queremos ajudar a responder com este artigo. Além disso, claro, queremos apresentar algumas maneiras de afastar o fantasma do endividamento da sua organização. Vamos conferir?

 

O que significa uma empresa endividada?

Sabemos que o capital de giro mede liquidez, eficiência e saúde geral de uma empresa. Também sabemos (inclusive falamos sobre isso neste artigo), que todo negócio tem o que chamamos de Necessidade de Capital de Giro (NCG), uma função do ciclo de caixa da empresa que, basicamente, mostra que se o ciclo de caixa for longo, a NCG é maior, e vice-versa.

Por isso, pensando em melhorar o capital de giro é que empresas acabam recorrendo ao capital de terceiros, como empréstimos, por exemplo. Nesse caso, se a organização vai atrás de mais recursos externos para aplicar em seus ativos (e assim incrementar o capital de giro), ela acaba, por consequência, criando dívidas.

O endividamento financeiro pode ocorrer por diversas outras razões. Talvez, o pior deles seja porque a conta receitas – despesas (ou seja, o resultado operacional), esteja negativa. Nesse caso, a organização tem que tomar decisões para retornar o superávit operacional. Mais uma vez, a preocupação passa a ser a Necessidade de Capital de Giro.

Você já deve ter ouvido falar na expressão “bola de neve” para mencionar uma determinada empresa que viu seu endividamento a curto e longo prazo aumentando. Isso porque, muito provavelmente, a tal dívida foi contraída para cobrir o que chamamos de buraco orçamentário. Em outras palavras: a empresa endividada saiu do trilho de seu orçamento empresarial e passou a trabalhar não para a geração de lucro, mas sim para o pagamento de dívidas. O resultado disso pode ser catastrófico, já que nesse caso a empresa passa a comprometer seu patrimônio.

Apesar de que a palavra endividamento não soe bem aos ouvidos de profissionais da área financeira e de controladoria, precisamos ser justos: existe o que chamamos de dívida boa.

 

Endividamento bom. Como assim?

Imagine que sua empresa esteja investindo em tecnologia da informação e em maquinário para aumentar a eficiência e produtividade, com o objetivo de reduzir custos. Para que esse investimento fosse possível, ela precisou recorrer a uma ajuda externa, mas isso somente depois de avaliar a viabilidade da compra de bens de capital.

A avaliação de indicadores se fez necessária e, claro, foi o controller quem esteve à frente dessa análise. No caso desse nosso exemplo, ele fez diversos cálculos considerando:

  • Custo da dívida ao longo do tempo;
  • Aumento de receita esperado;
  • Impacto das receitas no fluxo de caixa.

Perceba que chamamos de dívida sadia o endividamento empresarial contraído com o objetivo de reduzir custos e ampliar a receita. Isso significa que o esperado é que a dívida seja coberta pelo aumento de receitas e que o Retorno do Investimento seja maior que o juro a ser pago pelo empréstimo. É como ganhar uma carga para a empresa decolar mais longe, pois aumentará seu Faturamento.

Trocando em miúdos, se uma dívida para cobrir despesas acaba gerando mais despesas, uma dívida positiva (como no caso de um investimento) não compromete o fluxo de caixa.

 

Por que uma empresa se endivida?

Apenas para esclarecer, a partir daqui falaremos de dívidas contraídas para cobrir despesas e não para serem utilizadas em investimentos, certo? Pois bem, os motivos pelos quais a busca no Google “como reerguer uma empresa com dificuldades financeiras” acontece, são vários. Aqui citaremos três, e desde já aproveitamos para pedir sua colaboração. Ao terminar de ler o artigo, fique à vontade para aumentar esta lista nos comentários, ok?

A falta de planejamento financeiro está no topo desta nossa relação. Isso porque, em linhas gerais, uma empresa que faz esse planejamento está muito mais apta a prever acontecimentos de curto, médio e longo prazo. Isso significa que a organização consegue tomar decisões e agir antes de a bomba estourar.

Outro motivo que podemos citar é a famosa falta de vendas. Nesse caso, mais uma vez entra a necessidade de planejamento somada a uma gestão financeira eficaz. A falta de vendas afetará o capital de giro que citamos no primeiro tópico deste artigo, o que fará com que a empresa tenha o conhecido problema de prazo médio de recebimento maior que o prazo médio de pagamento.

Uma empresa também se endivida quando ela passa a operar com capital de terceiros e ser dependente deles. Isso pode acontecer porque ela se vê obrigada a contrair dívidas de maneira sucessiva para quitar outras dívidas (mais uma vez, olha a bola de neve aí).

Como comentado, não iremos nos alongar neste tópico porque entendemos que as razões são as mais variadas. Além disso, nosso ponto de vista é que organizações onde falta a cultura do planejamento e controle orçamentário acabam sendo mais suscetíveis a ver o seu índice de endividamento aumentado e entrar naquela bola de neve que comentamos.

 

O que é Índice de Endividamento?

Índice de Endividamento apresenta como o endividamento da empresa evolui ao longo dos anos. Pode-se também dizer que ele mostra quanto da geração de dívidas a organização depende para manter o negócio, ou seja, o quanto de capital de terceiros oneroso ela necessita.

Lembra que comentamos de dívida boa (ou sadia) em detrimento às dívidas ruins? Pois bem, utiliza-se o Índice de Endividamento também para avaliar se os recursos financeiros obtidos pela empresa são para cobrir despesas ou realizar investimentos.

Existem dois indicadores de Índice de Endividamento, a saber:

  • Índice de Endividamento Geral
  • Composição do Endividamento

Cálculo de Índice de Endividamento Geral (EG)

Utiliza-se o Índice de Endividamento Geral para identificar o quão comprometidos estão os ativos da empresa para financiar o capital de terceiros. O cálculo é simples e toma como base o balanço da empresa, o qual, como você sabe, é dividido em ativo e passivo de curto e de longo prazo. Apenas para não ficar dúvidas, temos que:

  • Ativos são direitos e Passivos são obrigações (neste artigo explicamos melhor).
  • Curto prazo é o período do exercício (ano corrente) enquanto que Longo prazo representa os próximos exercícios (anos seguintes).

Para calcular o EG, portanto, pega-se o total de capital de terceiros (o qual é composto pelos passivos de curto e de longo prazo) e divide-se pelo total de ativos da empresa. Em seguida, para encontrar o valor percentual, multiplica-se o resultado por 100:

EG = (Capital de Terceiros / Ativos) x 100

Para exemplificar, suponha que a empresa XYZ possua os seguintes valores:

  • Ativos Totais = R$ 1.000.000,
  • Passivos de curto prazo = R$ 200.000
  • Passivos de longo prazo = R$ 500.000

Assim, temos que:

EG = (700.000 / 1.000.000) x 100
EG = 70%

O que esse resultado significa? Quanto menor o índice, melhor a empresa está. Portanto, se analisarmos o resultado sob uma perspectiva financeira, podemos dizer que a organização possui uma alta dependência do capital de terceiros (70%).

Contudo, é importante observar que o resultado deste indicador de endividamento deve ser cruzado com a capacidade de pagamento da empresa. Temos que lembrar ainda que números precisam ser analisados dentro de um contexto. Claro que um alto EG não é sinônimo de um indicador bom, mas se os concorrentes encontram-se na mesmo situação, isso não significa necessariamente uma desvantagem da empresa.

 

Composição do Endividamento (CE)

Indicador de Composição de Endividamento serve para identificar a composição do endividamento de uma empresa, mostrando se ele é mais de curto ou longo prazo.

O cálculo é simples, e encontra-se o resultado com a divisão do passivo de curto prazo pela soma do passivo de curto prazo + passivo de longo prazo. Em seguida, para encontrar o valor percentual, multiplica-se o resultado por 100:

CE = [Passivo de curto prazo / (Passivo de longo prazo + Passivo de curto prazo)] x 100

Utilizando o exemplo da empresa XYZ:

  • Passivos de curto prazo = R$ 200.000
  • Passivos de longo prazo = R$ 500.000

Assim, temos que:

CE = [200.000 / (500.000 + 200.000)] x 100
CE = 28,57%

O que esse resultado significa? Indo direto ao ponto, significa que a composição do endividamento é 28,57% de curto prazo e 71,43% de longo prazo. Para a CE, um menor valor percentual é ótimo para a empresa, pois indica que ela possui um tempo maior para quitar as dívidas, já que a maioria delas está no longo prazo.

 

Índice de Endividamento ruim: como reerguer uma empresa com dificuldades financeiras?

Como controller você está colado nos Índices de Endividamento e os resultados não são nada animadores. A questão agora é buscar uma solução para empresa endividada, sempre seguindo a regra número 1: sem desesperos.

Assim, uma primeira dica para tirar a empresa do vermelho é entender a causa que a levou até aquela situação. Para esse passo, recomendamos a técnica dos 5 porquês, que abordamos no artigo sobre método FCA (altamente recomendado!). A explicação para isso é simples: sem um diagnóstico exato do que levou a empresa a sair dos trilhos, é impossível conhecer com exatidão a composição do endividamento empresarial. Logo, tomar decisões acertadas para sanar o problema torna-se tarefa praticamente impossível.

Paralelamente à metodologia FCA é indicado também avaliar as finanças empresariais de forma bem aprofundada, com um mapeamento criterioso do que entra e sai. Análises de margem de contribuição, necessidade de capital de giro, prazo médio de pagamento e recebimento são também essenciais para tomadas de decisão. Com base nessas informações, é preciso reunir-se com diretoria e definir prioridades e metas em curto, médio e longo prazos. Isso está relacionado com refazer o planejamento estratégico, o orçamento empresarial e o plano de negócios.

Definir prioridades significa cortar gastos o que, como sabemos, pode ser sinônimo também de demissões. Mas antes de tomar essa atitude, recomenda-se que a gerência seja transparente e converse francamente com suas equipes. Ao entender que a empresa passa por dificuldades financeiras os colaboradores podem ajudar a enxugar gastos e ter um controle do orçamento também ajuda a identificar quais setores e quais contas estão extrapolando o valor planejado.

Para reerguer uma empresa com dificuldades financeiras é necessário fazer o trabalho de renegociação de dívidas. Isso não significa contrair dívidas para saldar as já existentes, mas sim analisar o orçamento empresarial e ver o que cabe no orçamento da organização.

Destacamos ainda que nada disso terá efeito se departamento financeiro e diretoria não estejam falando a mesma língua. Portanto, como controller, garanta que todos tenham 100% de entendimento das contas, fluxo de caixa, perspectivas de gastos e arrecadações.

Claro que empresa no vermelho é uma situação ruim para todos os lados. Por isso, para que esses passos não precisem ser seguidos e para que a organização não precise ser reerguida, algumas boas práticas são recomendadas, conforme veremos no próximo tópico.

 

O que fazer para evitar o endividamento?

Não queremos chover no molhado ou cair em clichê, mas o fato é que existe um tripé fundamental que não pode ser esquecido:

  • Planejamento estratégico
  • Planejamento financeiro
  • Planejamento orçamentário

Claro que não basta apenas se dar ao trabalho de elaborar os planejamentos se eles não são seguidos à risca. Uma gestão empresarial de sucesso precisa de planos estruturados e de controles estabelecidos. Por isso, seguir os planejamentos significa também acompanhá-los e controlá-los.

Seguindo essa prática, os profissionais da equipe financeira poderão melhor identificar quais gastos e despesas a empresa pode enxugar e quais investimentos deve fazer.  Além disso, e o mais importante de tudo, é nunca se desligar do orçamento.

Sendo assim, para que sua empresa não corra o risco de entrar no vermelho, é mais do que recomendado realizar o controle orçamentário. Isso significa comparar o que foi previsto com o que realmente está sendo realizado, sempre de acordo com as responsabilidades atribuídas e compromissos com os resultados assumidos na fase de elaboração do orçamento.

Em casos de divergências no Orçamento entre o Planejamento X Realizado, é necessário identificar quais setores tiveram gastos acima do esperado, ou faturamento abaixo do estimado, e avaliar o que será feito para o problema não ocorrer mais e recuperar nos próximos meses.

Sempre que necessário, faça a revisão orçamentária com base, inclusive, em cenários econômico-financeiros. A revisão nada mais é do que o processo de reavaliação das metas planejadas para um determinado horizonte de tempo, já a previsão de cenários significa se antecipar a possíveis eventos que podem ir contra a empresa:

  • O que acontece se o dólar subir? E se baixar?
  • Qual nossa posição quanto a taxa de juros? Continuaremos a expandir?
  • Qual o preço mínimo para comprarmos nossa matéria-prima base?
  • E o que acontece se o preço da matéria-prima não baixar e nosso estoque esvaziar? Compraremos ao preço de mercado ou paramos a produção?
  • E se o preço chegar ao “gatilho” de compra, quanto compramos? Aproveitamos para fazer estoque? Qual o custo de manter este estoque?

Se formos para resumir em poucas palavras o que falamos aqui, poderíamos dizer que o mais importante de tudo é nunca, mas nunca mesmo, dar qualquer passo sem o devido estabelecimento de metas e elaboração de planejamentos.

Concluindo

Quando o assunto é endividamento, muitas luzes vermelhas se acendem. Isso porque, claro, nenhuma empresa quer passar por isso se as dívidas forem contraídas para pagar despesas. Temos diversos exemplos de empresas que faliram, assim como vários outros de organização que conseguiram sair do vermelho.

O que separa um grupo de outro é a maneira que a empresa se planeja para resolver o problema das dívidas. A composição do endividamento de uma organização deve ser avaliada para que ações possam ser tomadas, no entanto, sem planejamento financeiro e orçamentário nenhuma empresa consegue sair do buraco.

 

Via Treasy